Palácio dos Condes da Calheta


Mandado construir no séc. XVII por D. João Gonçalves da Câmara, 4º conde da Calheta, era um dos ex-libris dos palácios lisboetas. Serviu de residência de veraneio, alojou membros da corte e aqui se realizaram algumas sessões do conhecido processo dos Távoras. Alberga, atualmente, o Centro de Documentação e Informação do Instituto de Investigação Científica Tropical.


Quem chega ao nº 15 da Rua General João de Almeida não fica indiferente ao grande edifício cor de tijolo, sóbrio, que em nada lembra os tradicionais palácios. Entramos no átrio, amplo e muito fresco. Era isso que o seu construtor, D. João Gonçalves da Câmara, 4º conde da Calheta, procurava: uma residência de veraneio, normalmente ocupada entre Junho e Outubro, que fosse um espaço agradável de lazer e recreio.
Em 1726 é adquirido por D. João V, que pretendia concentrar aqui o poder político e militar, fazendo da cidade a capital do seu império. Cai um pouco no esquecimento com a construção do Palácio Nacional de Mafra.
A 3 de Setembro de 1758, D. José I abandonava o palácio após uma noite com a sua amante, Teresa de Távora, quando sofre um atentado. A construção da Igreja da Memória, um pouco mais acima, celebra o seu salvamento. No entanto, resultou num dos mais conhecidos processos, tendo o palácio sido palco do julgamento dos Távoras.
Após este nota introdutória da história do palácio, feita pelo Doutor Augusto Moutinho Borges, especialista de azulejaria e historiador, iniciamos a nossa visita guiada pela sala de refeição, onde atualmente está instalado o Centro de Documentação e Informação do Instituto de Investigação Científica Tropical. Apesar de apenas haver estantes com livros e mesas de leitura, a descrição é tão perfeita que conseguimos visualizar como seria a sala em pleno século XVII: os acessos, a escadaria de aparato, as arcadas, o pátio e percebemos que o modo como hoje comemos é de inspiração russa.
Subindo a escadaria em cantaria, chegamos à casa do meio, com o seu teto em madeira pintado e os azulejos pós-pombalinos. Esta sala tem várias portas que permitem o acesso aos outros compartimentos.


Seguimos para o salão nobre, um autêntico jardim de inverno, devido aos seus painéis de azulejos com motivos vegetalistas.


A sala das batalhas é das mais bonitas, com vários painéis de azulejaria holandesa, com representações campestres, marítimas e militares, bem ao gosto português.




Após passarmos pela sala de reservas visitáveis, descobrimos algo que não imaginávamos existir: uma xiloteca. Trata-se de uma coleção de amostras de madeira devidamente organizada e catalogada, muitas delas provenientes das ex-colónias portuguesas. E como em Portugal há muitas coisas com valor, ficamos a saber que é uma das melhores da Península Ibérica.


Por último, fica a sala de caça, com os seus painéis representando cenas de caça de vários animais e toda a panóplia associada a estes eventos: a bravura dos cavaleiros, o deleite das damas e a luta dos caçadores com os animais.


Quando saímos para o exterior, estávamos claramente satisfeitos com a visita. Não tínhamos visto mobiliário requintado, nem salas opulentas, nem bonitos tetos. Bastaram as seus belíssimos azulejos e o excelente modo como fomos conduzidos para fazermos uma viagem que começou no século XVII até aos nossos dias. Passamos pelo fosso, atravessamos o jardim de parterre de buxo e terminamos numa visita livre pela antiga Quinta do Meio, onde atualmente é o Jardim Botânico Tropical.


As visitas são pagas e necessitam marcação prévia através do Instituto de Investigação Científica Tropical.

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