Na velha Lyon


Classificado Património Mundial pela UNESCO, percorrer o bairro da Vieux-Lyon é descobrir a história do cinema, restaurantes típicos e passagens secretas.


Vieux-Lyon

Atravesso uma das muitas pontes sobre o rio Saône já sob ameaça de chuva. O vento, esse, não dá tréguas mas o frio suporta-se bem. Inicio o meu percurso junto da Igreja dos Protestantes, onde uma senhora alemã me abordou e explicou a história do edifício. No século XVII, era aqui o local onde os comerciantes faziam as suas transações e só em 1803 se converteu em igreja. Como me viu interessada, perguntou-me de onde era e ao saber-me portuguesa, respondeu: “Penso que tenho aqui algo em espanhol”.


Vieux-Lyon

Olhando em redor da praça, todas as ruas parecem iguais: estreitas e empedradas, com casas em tons pastel. A Rua Saint-Jean é a espinha dorsal do bulício turístico. Aqui estão os restaurantes, as tradicionais lojas e o Museu de Miniaturas e do Cinema (os irmãos Lumière nasceram em Lyon). Apenas espreito a montra envidraçada, apinhada de pessoas que fotografam algumas das peças expostas para convidar a entrar.

Apesar do chão estar escorregadio devido à chuva, os ciclistas nada temem e usam as suas bicicletas como meio de transporte ideal. É comum encontrarem-se encostadas a muros, fachadas, candeeiros e pátios.

Vieux-Lyon

Com o estômago a reclamar, coloco-me na fila da Bolangerie du Palais. O cheiro já o sentia à distância mas a fome torna-o mais apetitoso. Pizzas, baquetes ou bolos típicos, tudo pronto a levar para quem não quer optar por um menu leonês num dos muitos restaurantes.

Agora mais reconfortada, parto à descoberta daqueles locais que fazem da Velha Lyon um sítio especial. Avanço pelo túnel no nº 37 até à Maison du Chamarier, com as suas abóbodas, as varandas trabalhadas, as escadas em caracol e as janelas aos quadradinhos.

Vieux-Lyon

Regresso à Rua Saint-Jean onde observo algumas portas. Em madeira de várias cores e tamanhos, com um puxador ao centro e uma abertura no topo para entrar luz e fazer ventilação. Apoio a mão sobre a placa dourada no nº 54 e entro no traboule, passagem que liga vários prédios. Confesso que sinto um ligeiro nervoso. Sigo pelos corredores iluminados que não sei onde irão terminar. Das janelas pendem flores, uma caveira e há uma bicicleta presa ao gradeamento. O silêncio é quebrado por um grupo de turistas que vem em sentido contrário. Volto ao cinzento do céu no nº 27 da Rua du Bœuf, bem mais tranquila.

Vieux-Lyon

A Catedral de St Jean Baptiste é de paragem obrigatória, de fachada limpa e com uma rocácea ao centro. Em frente os riquexós aguardam pelos turistas cansados de percorrerem as ruas estreitas.

Apanho o funicular para o alto da colina de Fourvière. Imagino que seria difícil fazer este trajeto a pé com o vento frio mas vou de tal maneira “enchouriçada” entre as pessoas que agradeço os dois minutos que demora a viagem.

Vieux-Lyon

Ao entrar na Basílica de Notre-Dame de Fourviére, o impacto visual é grande. Eu sei que não é a Capela Sistina mas seguramente será dos lugares religiosos mais bonitos que já visitei. Não há pedaço da parede que não esteja decorado com mosaicos onde predomina o dourado e o azul, ao qual se junta a beleza das estátuas, colunas, candeeiros, vitrais e do chão.

Basílica de Notre-Dame de Fourviére

Apesar do grande número de turistas, importa não esquecer que é um local de culto e por isso deve ser respeitado enquanto tal. Os mais devotos fazem as suas orações nas capelas e há vários pontos onde é possível iluminar a fé.

Basílica de Notre-Dame de Fourviére

Termino a visita na cripta de St. Jean, que impressiona pela dimensão e iluminação pouco comum em espaços que costumam estar na penumbra.

De regresso ao exterior, é possível uma vista panorâmica sobre Lyon a partir do miradouro. Com as nuvens a dar uma trégua, avista-se claramente a Catedral de St Jean Baptiste, o rio Saône, a Praça de Bellecour, o Hôtel de Ville e todo o casario em tons pastel.

Vista panorâmica sobre Lyon

Os vestígios da antiga cidade romana de Lugdunum ficam a poucos metros de distância. O tempo não me permite visitar o Museu Gallo-Romano mas desço um dos anfiteatros e aproveito para descansar um pouco no mais pequeno, com alguns raios de sol a atravessar as nuvens. Ainda resta um pouco da calçada romana.

Cidade romana de Lugdunum

Como a descer todos os santos ajudam, faço o percurso a pé. Não é que seja longe mas a inclinação é acentuada e implica alguma força nas pernas. Regresso à praça da Catedral de St Jean Baptiste e entro numa casa de chá. O chocolate quente reconforta as energias gastas. Junto ao rio Saône continua a soprar um vento frio.

5 comentários:

  1. Excelente artigo. Fiquei com (ainda mais) vontade de visitar Lyon.

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  2. Excelente artigo. Fiquei com (ainda mais vontade) de visitar Lyon.

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  3. Obrigada! Nunca tive oportunidade de visitar Lyon apesar de ter vivido muitos anos em França. Será certamente um dos locais a visitar numa das idas "mata saudades". Merci!!!

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  4. Olá Sofia: nos próximos dias irei colocar mais artigos sobre Lyon. Espero que ajude a planear a sua viagem! :-)

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  5. Olá Christine: Lyon combina na perfeição um lado mais antigo com um mais moderno, sem esquecer a gastronomia e a arquitetura. Estou certa que irá gostar!

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