Uma milha real


No coração de Edimburgo, a Royal Mile é das ruas mais turísticas. Antiguidade e modernidade partilham espaços que surpreendem e conquistam.

Lawnmarket; Royal Mile; Edimburgo

É improvável visitar Edimburgo e não percorrer a Royal Mile. Em cada uma das extremidades, dois marcos históricos, hoje atrações visitadas por milhares de pessoas: o Castelo de Edimburgo e o Palácio de Holyroodhouse. Ao longo do percurso, atravesso cinco importantes ruas: Castlehill, Lawnmarket, High Street, Canongate e Abbey Strand. Uma milha de atrações a descobrir.
Junto ao Castelo de Edimburgo, há vários aspetos a destacar. Podem ser vistos enquanto se espera na fila para visitar o castelo…caso sejam madrugadores. A Cannonball House ou a Outlook Tower & Camera Obscura têm interesse do ponto de vista arquitectónico. Quem quiser aprofundar conhecimentos sobre a confecção dos kilts ou saber mais de whisky, The Tartan Weaving Mill e o Scotch Whisky Experience são boas opções.
A antiga igreja The Hub, com a sua agulha gótica, é o ponto mais alto no centro da cidade. É também a sede do Festival de Edimburgo e por isso a agitação era grande.

The Hub; Royal Mile

O sol espreita em muitos momentos, há música nas ruas, pessoas distribuem panfletos que anunciam as atividades a decorrer, sempre com um sorriso mesmo quando declino as ofertas. O trânsito é vagaroso porque a multidão assim o obriga. É comum ver passar os típicos táxis, todos pretos ou com publicidade de atividades culturais. Alguns autocarros vintage são usados para passeios turísticos, concorrendo com os mais modernos Sightseeing.


Virei à esquerda para o Lady Stair's Close, pois não queria deixar de visitar o The Writers' Museum, localizado num edifício histórico de Edimburgo. Estão expostos alguns dos objetos pertencentes a três grandes escritores escoceses: Robert Burns, Sir Walter Scott e Robert Louis Stevenson. As divisões são pequenas mas a visita vale a pena. No fim, dediquei algum tempo à livraria.

The Writers' Museum; Lady Stair's Close; Edimburgo

Junto à esquina da High Street está uma pequena placa que assinala o lugar onde ocorreu o último enforcamento público. Talvez pela sua reduzida dimensão, não há muitas pessoas a repararem.
Junto à St Giles' Cathedral a animação é grande. Está a decorrer uma atuação de um número humorístico. A entrada é gratuita, apesar de ser convidada a deixar um donativo. Reparo nos vitrais e entro na capela, com o seu cadeiral bem típico.
No exterior, junto ao passeio, procuro o Heart of Midlothian e enquanto me preparo para o fotografar, pai e filho lançam duas valentes cuspidelas. O pai, ao ver-me olhar, fica um pouco embaraçado e diz-me, encolhendo os ombros: “It’s typical”, ao que respondo “I know”. A história associada ao lugar, antiga prisão e local de execução é sobejamente conhecida, por isso, há a tradição de quem aqui passa fazer este gesto pouco simpático.

St Giles' Cathedral e Heart of Midlothian; Royal Mile


Passando a Parliament Square, onde está a estátua do economista Adam Smith, natural de Edimburgo, chego ao close mais famoso da cidade: The Real Mary King's Close. A visita é paga e inclui uma pequena encenação do modo de vida no século XVII. Percorrendo toda a Royal Mile, passo por dezenas de closes e winds, becos, com os sem escadas, que fazem a ligação entre várias ruas. Por norma estão sempre identificados e apesar de parecerem lugares escuros e pouco convidativos, merecem a aventura de se entrar e descobrir boas surpresas. Já descer ou subir as íngremes escadarias implica um ato de coragem.



Closes na Royal Mile

No Tron Kirk, o ambiente é informal. Sob o olhar atento de figuras seculares dos vitrais, passam bandejas com corpos de cerveja, enquanto se assiste a mais um concerto. Edimburgo é realmente uma cidade surpreendente.
Dado o constante movimento de pessoas, a Royal Mile é uma importante artéria comercial. Desde lojas de roupa feita em cachemira, aos tradicionais kilts, venda de camisolas, os típicos souvenires e claro, o whisky escocês. Há para todos os gostos, com vários preços e níveis de qualidade: o melhor é mesmo entrar e avaliar o produto. Se estiverem junto de edifícios onde a História é a atração principal, como a John Knox House, melhor ainda.



Em Canongate há menos pessoas. O cinzento das casas sobressai. Moradores de longa data procuram alguma luz e respirar a azáfama ocasional. É mais um dia como tantos outros.


Aqui os sentidos têm de estar mais despertos para descobrir os pormenores. Um exemplo é a pequena estátua conhecida como Morocco Land, situada numa parede. Representa um mourisco de turbante e colar e está associado à figura de Andrew Gray, habitante local, que fugiu para Marrocos.

É impossível não reparar na torre do Old Tolbooth, antiga prisão que foi demolida em 1817. No interior encontra-se um museu curioso.


The People’s Story retrata os modos de vida desde o século XVIII até aos nossos dias. Figuras de tamanho real de sem abrigo e prisioneiros até à tradicional dona de casa. Os tempos livres não foram esquecidos, incluindo atividades ligadas à música e convívio social.
Numa cidade que gosta de honrar os locais que se distinguiram em várias áreas, como a literatura, encontro mais uma estátua em frente ao Canongate Kirk. O poeta Robert Fergusson numa pose curiosa que muitos transeuntes tentam imitar, posando para a fotografia.


Robert Fergusson; Canongate Kirk; Royal Mile; Edimburgo

Já a chegar a Abbey Strand, visitei o Scottish Parliament. A visita é livre e gratuita. Passando pelo detector de metais, há um espaço de exposição temporária. A sala de debate fica no andar superior e o estilo é muito diferente do nosso: moderno, funcional e equipado com várias televisões para quem está a assistir às sessões. Terminei no café, um bom local para uma refeição rápida.

Chego ao extremo oposto de onde comecei, com o Palácio de Holyroodhouse, residência oficial da monarquia britânica na Escócia. Recomendo não só pela história do local como pela visita à Abadia de Holyrood, que apesar de estar em ruínas, é um lugar melancólico, cuja beleza não se perdeu.
Num dia percorri nove séculos de histórias através de monumentos marcantes na construção da identidade de Edimburgo. Alguns já não existem mas a vontade de preservar a sua memória é mais forte, bastando apenas ter os sentidos alerta. A Royal Mile é uma rua eclética com uma milha de razões para a visitar.

3 comentários:

  1. Olá :) a vontade de conhecer a Escócia vai crescendo e vir aqui tem contribuído muito para isso…Edimburgo parece-me cada vez mais um ótimo pretexto :)

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  2. Olá :) a vontade de conhecer a Escócia tem crescido e vir aqui tem contribuído bastante...Edimburgo parece-me imperdível ;)

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  3. Olá Sofia: estou certa que irá adorar. Mas se puder, saia de Edimburgo e conheça o campo e os seus castelos. Não tive oportunidade de o fazer, por isso, tenho mesmo de voltar.

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